RESENHA – MIDSOMMAR, O MAL NÃO ESPERA A NOITE

 

Pra quem assistiu HEREDITÁRIO, do mesmo diretor de MIDSOMMAR, e gostou, vai sentir a mesma ambientação logo de cara, porém, pra quem se sentiu provocado psicologicamente antes, agora vai se sentir totalmente perturbado com a nova produção de Arl Aster.

A muito tempo eu não via um longa tão bem trabalhado, diferenciado e que foge totalmente de tudo relacionado a terror ja visto antes, salvo sua obra anterior, MIDSOMMAR é algo totalmente psicodélico, psicológico, perturbador e que vai deixar qualquer um em choque, porém, esse não é um filme para fracos, é um filme para poucos, e que estejam muito preparados psicologicamente para assistir essa obra, eu confesso que não estava, e sai da sala de cinema, extremamente perturbado com o que vi.

Bem distante de um filme de sustos, trilha sonora alta, jump scare, MIDSOMMAR é um filme de auto análise o tempo todo de sua protagonista, a personagem Dani, que sofre na escuridão do início até a cena final, e que drasticamente encontra a luz em meio a drogas alucinógenas e rituais de um pequeno povoado sueco, sim, o filme é rodado na Suécia, com muita narrativa sueca e uma cultura totalmente lúdica que a principio se baseia no naturalismo, drogas e uma vivência longe da vida real e urbana.

Aqui vemos um filme que caminha de trás pra frente, e que vai se transformando de pesadelo a sonho, de trevas a luz, que vai diante da dor mostrada na abertura, o espectador vai sendo conduzido a um ambiente colorido, rico em natureza, os personagens são conduzidos a um festival que ocorre em um dia que nunca acaba e nem vira noite, que so acontece a cada 90 anos, diante disso, a escuridão só existe dentro da protagonista.

A partir daí é que o filme mostra a que veio, um terror cru e que assusta até onde existe uma piada e outra, soltas para tentar amenizar o horror e drama vivido nesse acampamento isolado do mundo, a cada cena, um impacto diferente, a cada trilha sonora, em sua maioria, a capela, um choque, a cada narrativa, o espectador nota que o estranho, comece a fazer todo sentido, porém conforme a trama vai se desenrolando, o espectador fica imensamente incomodado, o ar, apesar de parecer puro e lindo, é extremamente pesado, chega dar nó na garganta.

A forma em que o diretor consegue impactar o espectador é muito bem trabalhada, difícil e extremamente bem executada, além de não dar um minuto de paz à sua protagonista, o roteiro pega pesado sobre relações humanas, e questões de indiferenças, observamos que a protagonista carrega um fardo necessário do inicio ao fim para chegar a uma unica conclusão que só aparece no desfecho, com uma cena pra lá de pesada, em que toda treva, vira luz.

Esse filme é um delírio constante, entre cenas de mortes que atingem o gore realista, fases dolorosas do grupo de personagens, que até poderia parecer um terror clássico, mas passa bem longe de ser, a partir do momento em que a personagem necessita entender sua própria dor, e mesmo que não entenda, precisa encontrar sua paz, tudo alinhado aos minutos finais, com cenas extremamente bizarras e constrangedoras, com desfecho totalmente agressivo aos olhos do público.

Esse filme soa como uma terapia de casal, retratada de uma forma totalmente dolorosa, a repulsa é real, mas tem uma sensibilidade tão perturbadora ao refletir sobre solidão, recuperação traumática, aceitação no mundo e inquietação que a vida deve ser mais vivida, mesmo que mais sofrida, tudo isso no silêncio barulhento, eu classificaria como um terror psicológico, extremo e doentio, um dos melhores e mais pesados, no gênero, que ja assisti até hoje, não recomendo para família, somente para os fortes.

Borba Martini – Critico de Cinema & Teatro

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